quarta-feira, 4 de julho de 2012

Inês

    


Conta a história de uma mulher Austríaca, rica e habituada a todo o conforto, que faz uma visita à cidade de Marcala, nas Honduras, uma cidade em desenvolvimento onde nos prados nasciam espontaneamente, lindos gladíolos.
    A mulher instala-se numa casa cinzenta por fora e cinzenta por dentro por ser feita de adobe que não foi rebocado, com uma porta de tábuas e taipais de madeira. Quando se fecham, fica tudo completamente às escuras, não havia eletricidade. Apenas via o céu, através do telhado e em dias de chuva a casa ficaria inundada e enlameada. A mobília era pouca, apenas havia uma cama para uma só família, uma cadeira, dois escabelos, um banco e uns pregos na parede para pendurar peças de roupa.
    No Verão viam-se flores entre os tufos de erva, galinhas brancas, um céu muito azul e muito pó da terra seca, o que proporcionava um belo cenário, que se contrastava com a casa onde ela se encontrava. 
   Quando olhava á sua volta via mulheres a cuidarem dos seus filhos doentes, sem dinheiro para medicamentos nem roupas e sapatos, sem os seus maridos que tinham saído da cidade á procura de trabalho, mulheres que acordavam todos os dias às quatro da manhã, comiam unicamente tortilhas de milho que moíam à mão, apanhavam lenha para o fogão e cortavam-na em pedaços pequenos, trabalhavam arduamente no campo, iam buscar água para a família toda e á noite, remendavam a roupa junto ao fogão de lenha, porque não havia outra luz e depois de todo esse cansaço dormiam em peles de vaca, porque não haviam camas.
   Já as crianças não iam á escola, porque não tinham roupas para se vestirem, tinham de trabalhar nas plantações ou costurar desde o nascer ao pôr-do-sol.
   Numa tarde a mulher acompanhou uma amiga que numa organização de ajuda ao desenvolvimento, para lerem a Sagrada escritura e falarem dos problemas com as mulheres da aldeia. Aí ela conhece Inês a filha da dona da casa onde se encontravam, Inês sentou-se junto dela e colocou o seu irmão de que tomava conta, ao seu colo mostrando-se uma menina muito meiga. A mulher sorriu-lhe, mas ao olhar para a cabeça de Inês reparou que ela estava repleta de piolhos e afasta-se, senta-se numa cadeira que estava vazia.
     A mulher sente-se nesse momento mais protegida, mas ao mesmo tempo envergonhada pela sua atitude. Ao ouvir as frases da bíblia, ela reflete acerca da sua atitude e apercebe-se de que o que fez estava incorreto.
    Repara também num gladíolo dentro de uma lata, uma alegre mancha de cor que se encontrava sobre uma mesa e pergunta-se se terá sido Inês a coloca-lo lá.
   As mulheres despedem-se com uma canção que Inês também acompanhava, e logo depois Inês aproxima-se dela e diz-lhe para a acompanhar até atrás da casa para lhe mostrar as mangas, ela trepa a árvore e segura ao mesmo tempo na camisola da mulher que servia de bolsa para as mangas. Nesse momento a mulher pede-lhe para ela a perdoar por ter tido medo dos seus piolhos e durante tanto tempo não ter reparado no seu gladíolo.

Hannelore Bürstmayr
Lene Mayer-Skumanz (org.)
Hoffentlich bald
Wien, Herder Verlag, 1986

Mónica Costa, Nº9, 10ºA
(AEPC)

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