quarta-feira, 4 de julho de 2012

“As velhas são o Diabo” de João de Araújo Correia



Assim que iniciei a minha leitura atenta do conto, e, à medida que a história ia rolando, apercebi-me de um iminente alerta para a crise de valores da sociedade ocidental.
Os exemplos são os do casamento interesseiro do Frederico com a senhora Aninhas, muito mais velha do que ele, e a sua relação invulgar e, embora pouco explícito nas primeiras linhas de leitura, algo problemática. No entanto, não passam de caricaturas de inúmeras relações reais, feitas e alimentadas por pessoas reais.
A ele, interessavam-lhe as propriedades da mulher, a sua predisposição para tratar da casa e afins e o respeito que iria oferecer-lhe sendo submissa. A ela, interessava-lhe a vaidade de ter um homem mais jovem, belo e ter alguém para cuidar, uma vez que não tinha filhos. O apego aos bens materiais e ao “parecer bem” são, assim, os primeiros erros éticos e morais a ser apresentados.
Com o avançar da descrição do casamento e dia-a-dia de ambos mais falhas e delitos morais são apresentados. Aninhas tratava do marido como podia e com todo o carinho que tinha para dar. Frederico vivia para o negócio, “o fito da sua vida era o negócio” e para a mulher, não sobrava espaço no seu coração. Ela não passava de “uma sócia” a quem não era retribuído o esforço feito.
A fragilidade da relação acaba por trazer mais problemas e mais erros: Aninhas desespera com a falta de carinho e atenção, torna-se paranoica com uma possível traição e Frederico sente-se preso e controlado. Quando a bolha rebenta, Aninhas acaba por assassinar a possível amante do marido, ser presa e mostrar-lhe o seu ponto de vista. A auto desculpabilização de Frederico, ainda que não seja dita explicitamente, é dedutível.
O narrador apresenta, na sua perspetiva, Aninhas como a culpada de todos os problemas do enredo. Não é tida como vítima de carência emocional ou mesmo algum tipo de violência, apenas como a causa.     
Concluo, assim, com a minha interpretação, que não só se caricaturam os problemas morais e éticos da sociedade, como também a descriminação e posição da mulher como ser imperfeito e, de alguma forma, inferior ao homem e ainda o facto de, na maioria dos casos avaliarmos os factos segundo uma sinédoque: tomamos o erro de um como sendo o erro inquestionável do outro semelhante, como é percetível na última frase e no título do conto “As velhas são o Diabo!”.

Laura Sofia Soares Carvalho
Nº 7, 10º A
(AEPC)

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